sábado, 21 de agosto de 2010

Arte, Tecnologia e Sensorialidade



O que a arte moderna e a sensorialidade trouxe de herança para o modo de viver e consumir da atualidade?

O Conceito de "percepção digital" propõe pensar a sensibilidade nas sociedades tecnológicas. Pensar as relações entre a sinestesia e a cultura contemporânea implica levar em conta a questão da percepção em suas relações com o sentido de nossa experiência: suas relações com a cultura, e, tratando-se de uma cultura mais e mais tecnológica, a questão da tecnologia.

Hoje é possível perceber a unidade entre sensação e pensamento. Um estímulo, por menor que seja, desperta nas pessoas sensações diversas e isso, muitas vezes, depende de experiências passadas. Qual o cheiro da sua infância? Se pararmos para pensar para cada pessoa e resposta será única, pois esse tipo de sensação é relativo. Agora, muitas vezes também, podemos provocar determinadas sensações específicas nas pessoas e é esse o objetivo da comunicação e do marketing sensorial.

"Fácil notar as relações entre as próteses tecnológicas do olho humano com as quais se fizeram a história da imagem e da ciência moderna – telescópios, microscópios, perspectiva, câmera escura, fotografia, cinema, e as infoimagens produzidas pelo cálculo informacional. A cada uma destas tecnologias corresponde um modelo de conhecimento, um momento da cultura, de que estes diferentes suportes participam, os quais em alguma medida operacionalizam e também, em grande medida, exprimem. Ler a história das tecnologias da imagem em suas relações com o pensamento moderno é tarefa hoje simples: o estabelecimento da noção de ponto-de-vista, sua consolidação num conceito ideal de sujeito, a mecanização da produção da imagem, o registro objetivo do movimento e da duração, o cálculo do real. Mais sutil, entretanto, é o modo como intervêm nos modos de perceber que fundam a cultura." (BASBAUM, 2007)



Emoção Art.Ficial 5.0


Uma forma de arte que se apropria das novas tecnologias, subvertendo seus usos, desafiando as razões para as quais foram criadas. Não importa se são artefatos conhecidos ou o retrato do que de mais avançado existe na ciência. Neste ano, na quinta edição da mostra, neurônios de rato reproduzidos em laboratório sentem os visitantes por meio de sensores e controlam, lá dos Estados Unidos, braços de robôs que a lápis desenham em tubos de PVC instalados em plena Avenida Paulista. E tudo isso feito para ser arte: tecnologia criada comercialmente mas utilizada para surpreender, provocar e emocionar.

E como toda arte que merece esse nome, as obras da bienal não precisam ser entendidas. As exposições são abertas a todos: desde crianças e leigos, que se divertem e interagem, passando por quem aprecia a beleza poética de muitos trabalhos, até quem compreende a complexidade de softwares e máquinas que parecem ter intenção e vontade próprias.

Agora, em 2010 a bienal é norteada pela noção de autonomia cibernética, pela evolução de regras e padrões derivados dos comportamentos emergentes das próprias máquinas. Grosso modo, é como se as máquinas percebessem que seu próprio comportamento leva a coisas vantajosas ou prejudiciais aos seus objetivos. Com isso, podem mudar de ideia e agir como se tivessem “personalidade”.

Caracolmobile por Tania Fraga (Brasil, 2010)



Um organismo artificial, semelhante a um caracol, tem a capacidade de reconhecer diferentes estados emocionais humanos, respondendo a eles de modo expressivo por meio de sons e movimentos. A obra é inspirada na computação afetiva, campo de pesquisa cujo foco é a interação “psíquica” entre humanos e sistemas artificiais.

Hysterical Machines por Bill Vorn (Canadá, 2006)



Cinco robôs artrópodes movimentam-se de forma orgânica mas brusca: um comportamento inesperado, já que é realizado por máquinas que, supostamente, deveriam ser apenas funcionais. O objetivo da obra é induzir a empatia do espectador a entidades robóticas, que de fato são mais do que um punhado de estruturas metálicas.

Bion por Adam Brown e Andrew H. Fagg (Estados Unidos, 2006)



Uma rede de sensores é ligada a cerca de mil dispositivos que gorjeiam como seres vivos. Cada uma dessas “formas de vida”, chamadas “bion”, comunica-se entre si e reage à presença dos espectadores. O título da obra faz referência a um elemento energético biológico primordial, identificado como “orgone” pelo cientista Wilhelm Reich.


Fontes:

BASBAUM, Sérgio Roclaw. Percepção digital: sinestesia, hiperestesia, infosensações. São Paulo, 2007.
ARGAN, Giulio Carlo. As fontes da arte moderna. 1987.
Emoção art.ficial: bienal internacional de arte e tecnologia. 2010.

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